Se o Solo Adventures está repleto de histórias e lições de vida será que as estórias vindas da cabeça não serão fragmentos de outras que ouvimos na realidade?
Há uns anos no meu antigo blog A Cisma escrevi esta, hoje fui revisitá-la porque senti que podia ilustrar muitas vidas que para aí andam.
Naquela noite que passámos ao relento, pedi-te amor porque nunca ninguém me ensinou como pedir perdão. Sempre pensei que amar por si só bastasse, porque quem ama verdadeiramente sabe perdoar, e assim foi…
Durante cinco anos vivi no teu amor, que para mim era perdão. Durante mais cinco vivi por ti, e nos últimos dois perdi a noção do que éramos.
- Matilde, porque dizes que o que somos terminou? – perguntaste com um olhar estarrecido e despedaçado pela dor.
-Só hoje percebi que amar por amar não basta. Tu és quem eu quis, mas não quem eu quero.
Pegaste no maço de cigarros que guardavas diariamente dentro de uma caixa de sapatos por cima da prateleira do quarto – parecia que o escondias por vergonha de o ter de consumir. Sentaste-te ao meu lado, e partilhaste o único que tinhas comigo.
Entre longas inalações e bafos disseste a frase mais perfeita que eu ouvi até hoje:
- Dei o mundo por ti… e no entanto o meu mundo és tu.
Parei por uns momentos a respiração na esperança de alcançar o fôlego.
- Deste o mundo por mim e por eu ser o teu mundo ficaste sem me ter… Oh João, a vida é uma sarcástica tortura e o amor então, é a mais cruel das suas piadas irónicas…
A partir daquele momento - ao ouvirmos os dois o que eu acabara de pronunciar - percebemos que esse seria o último dos momentos que iríamos partilhar.
A noite caiu sem pedir licença e a casa partilhada deixou de a ser. Tu seguiste o teu caminho, e eu continuei a percorrer o caminho que me restava.
Os amores de adolescência passam rápido de mais, porque são tempestuosos e infantis. Os amores maduros estagnam, porque já não sabem que mais formas deveram tomar. Apenas são o que se tornam com o acumular dos anos.
O nosso amor era um misto entre os dois: inquietamente estagnado.
Tu tinhas vivido para mim e eu vivia por viver… Os atos do passado marcavam-me o coração e afligiam-me o pensar. Observando mentalmente em retrospectiva: algo que nunca te disse por sentir o peso da perda mesmo antes de a ter, é que eu não nunca te mereci. Sempre me questionei se saberias esta verdade, mas se sabias ignoravas com grande engenho e masoquismo.
É deveras espantoso como duas pessoas que no início se amavam tanto e ignoravam a verdade que os juntara, conseguem passar tantos anos sem aprofundar o que falha. Eu pensava nisso constantemente, mas ao ver a alegria dos teus atos, tentava recalcar o que sabia ou pensava saber.
Hoje tive a coragem de enfrentar a falha, de encarar e levantar o braço para a denunciar. E foi graças a esta minha coragem que hoje nos perdemos e passámos a ser cada um por si só.
Claro que tinha de lançar umas questões para reflexão:
Sentes-te menos tu e mais nós quando numa relação? Sabes perdoar e viver em compaixão?
Boas Aventuras,
Joana Feliciano