És do clube das pessoas a quem o café não lhes faz nada? És dos que pedala quase tanto como anda? És do que acham que parar é uma absoluta perda de tempo? Achas que as tuas ideias podem virar em projetos que por sua vez podem virar em empresas? Podia continuar a fazer questões e continuaria a fazer "check" a cada uma delas porque o Solo Adventurer André é desses e de muito mais. Não tens de saber andar de bicicleta podes acompanhar a pé enquanto és parado para dar explicações. Não está a fazer sentido? Isso é porque ainda não leste o que temos aqui para ti.
-Sinopse de como nos descobrimos-
Quem tem amigos e contactos comuns tem mais mil histórias e lições de vida à distância de um email ou telefonema. E foi assim que eu e o André nos cruzámos. Eu já tinha lido sobre o seu projeto What a Tutor (antes Explicame.pt), mas não fazia ideia do que ele tinha ainda por partilhar. Curiosamente e para reforçar a ideia de que o mundo pode ser uma esfera de ervilha, tal como eu o André tem raízes na zona de Tomar (Santarém). Não me digas que tu que lês desse lado também tens?!
-Sinopse sobre o André-
André Santos nascido e criado em Lisboa contudo como se tratasse de uma piada na sua vida ele não gosta de cidade. Acredito que goste da sua cidade, mas se lhe derem a escolher entre a natureza e os prédios já sabemos onde vamos encontrar o André a partir desse momento. Aí mesmo, no sítio "longe de tudo e todos" como ele próprio diz.
O seu escritório tem sido "lá fora", em 2016 fez a sua primeira viagem de bicicleta com um amigo e a partir daí
não quis mais levantar-se muito tempo para fora do selim. Sempre que tem oportunidade agarra na bicicleta e gira com a "casa às costas". Nas viagens contam-se kms de estrada: "Grande Rota do Zêzere (2x), Rota Vicentina (2x), Tróia – Sagres (2x), Tróia – Lagos (1x), Caminhos de Santiago de Compostela (1x), Grande Rota do Vale do Côa (1x), Rota da Serra de São Mamede (1x), Rota dos Túneis (1x), Lisboa – Tomar (2x) e muitas outras…". Uma curiosidade sem explicação: em todas as viagens que faz é perseguido por um cão. Será um sinal?
Em termos de estudos já revelou nas Sintra Tech Talks que era muito irrequieto e de objetivos. Com uma dupla Licenciatura em Gestão Hoteleira e Gestão de Empresas pela Universidade Europeia arrecadou uma bolsa de mérito pelas boas notas. Atualmente está a frequentar o Mestrado em Ciências Empresariais pelo ISEG, mas ele gosta mais da prática apesar de reconhecer a importância do conhecimento teórico.
Se escutarem e virem o André vão perceber quase de imediato duas coisas: 1) é muito energético, até diz que o café não lhe faz efeito (sortudo?) e 2) que não consegue estar parado nem fechado mais de 2h entre quatro paredes porque senão fica consumido com a sensação de dar em “maluco”. Trata o desporto e as aventuras de pedal ou de sapatilhas (tu dizes ténis, é? também pode ser) nos pés como o seu refúgio que o permitem abstrair-se para o nada longe do stress quotidiano. Por e para isso pratica também natação de competição não federada.
Mas vamos conhecer outro lado ainda deste Solo Adventurer.
Recua até ao ano 2015, ele ainda na sua licenciatura, quando cede a um pedido de um colega para dar o que seria a sua primeira explicação. Desse colega, o Leo, palavra passa palavra e de uma começou a dar muitas.
Acendeu-se a luzinha das ideias. Para conseguir gerir as solicitações e colmatar a necessidade que existia no mercado o André deixa passar dois anos e em 2017 cria a sua primeira empresa, a Explicame.pt, atual What a Tutor. No espaço de um ano e com apenas 20 anos cresceu de 1 para gerir 300 explicadores.
Como funciona? Ele contou-me que é "uma plataforma de Booking de explicadores, que faz a ponte entre pais e alunos que procuram um explicador de confiança, onde e quando quiserem, e explicadores e centros de estudo, que pretendem divulgar os seus serviços, obtendo rendimentos por isso." Se queres explorar mais sobre o projeto vê aqui contado pelo próprio.
Com esta ideia de negócio tem recebido vários reconhecimentos na área do empreendedorismo:
3º Lugar Prémio Melhor Ideia de Negócio da NOVA FCSH;
Um dos Vencedores da 1ª Edição Programa Jovens Empreendedores Sociais;
Vencedor da 8.ª edição do Programa de Aceleração Startup Sintra;
Finalista StartupIn 2018;
Finalista da 8.ª edição do Montepio Acredita Portugal (Categoria Educação);
1º Prémio Projecto Areeiro Empreende;
3º Prémio em Comercial, Comunicação e Marketing - Movijovem e Pousadas de Juventude.
Algo que começou como uma ajuda, um rendimento extra tornou-se a sua vida. Hoje ele vive entre as suas aventuras na natureza, a sua tese e a gestão da empresa. Mas não que isto tudo parasse este empreendedor de querer fazer acontecer mais, por isso a juntar aos seus afazeres o André está a desenvolver um outro projeto no âmbito do turismo desportivo. Mais informação? Em breve...
Todos somos feitos de sonhos e o André não é excepção. Para além de desenvolver um negócio de sucesso (acho que está num bom caminho) podemos contar entre os seus sonhos as nuvens que pretende alcançar no Evereste e a volta ao mundo que planeia ter de ser de bicicleta. Podemos dizer que já anda em treinos. As suas métricas anuais (e quão extraordinário é isto de as conseguir dizer?!) são mais de 700km nadados, 300km corridos e 8000km pedalados. Como sou curiosa de natureza fui pesquisar quantos lhe faltavam para a tal volta ao mundo e a resposta é mais de 40,075km. Fácil.
Se gostavas de o apanhar então deixamos-te aqui as suas próximas viagens de bicicleta planeadas: Islândia, Nepal e Açores. Temos todos muito que pedalar.
Deixo-vos algumas notas e lições soltas escritas pelo André. Não as quis editar por achar que estavam honestas e inspiradoras. Foram especialmente escritas para esta ocasião e vão abrir o apetite para as lições de vida que vão encontrar mais abaixo, que desta vez vêm de uma forma muito diferente. Prometemos que vais gostar.
"O líder nunca dá parte fraca. Se assumes esta posição na tua empresa, na tua vida, mas tuas viagens, terás de ter coragem para a levar até ao fim.
Os erros fazem parte da tua aventura, mas são um paralelismo para o que vives na vida real. É com estes erros que percebes que é tal e qual o que vives na tua vida pessoal e profissional.
Nunca pensei que fosse tão bom acampar. Falo com muita gente que não o quer fazer, por ser desconfortável, por se sujar ou não tomar banho. É tão único e diferente, afastares-te das tecnologias, estares na tenda com amigos a valorizar as cenas simples da vida. Olhar para as estrelas. Comer enlatados à porta da tenda e a ouvir o vento, o mar...
Quando estiveres a dar a quebra, pára, escuta e olha para o que te rodeia. A natureza terá resposta aos teus problemas.
Não tenhas medo de partir à aventura. É das coisas mais incríveis que podes fazer. Aprendes tanto, és levado ao limite. Conheces-te a ti mesmo.
Todos somos humanos. Se te relacionares com os outros, e fores que quase despido sem intenções, irão dar-te aquilo que sabem que precisas, mas que ignoras no teu interior.
Viajar é aquele momento em que não pensas em mais nada (trabalho, obrigações, tarefas), és tu, só tu e o teu objetivo do dia.
Outra aprendizagem é cumprir objetivos. Muitas vezes queremos desistir, mas há algo maior que nos move a chegar ao objetivo e é por isso que adoro levar pessoas diferentes para as minhas viagens, costumo dizer que vêm quase que em retiro espiritual. Porque é mesmo isto.
Nunca pensei que houvesse gente a perguntar-me no Instagram se poderia vir comigo. Digo sempre que é muito duro, mas nunca nego a ninguém. Acima de tudo é um crescimento que me deixa orgulhoso, ao ver os meus companheiros de viagem no início, contrastando no final, a dizerem que querem repetir e quando é a próxima!
Já apanhei sustos. Perseguições de cães. Quase ser atropelado. Perder a minha mochila e ter que fazer kms no dia seguinte para a ir buscar.
Não gosto de comodismos. Bike é o meu meio de transporte na cidade e quando viajo. Não me importo de apanhar chuva, frio ou calor. Mantém-me vivo e deve ser por isso que é raro ficar doente."
-Lições de Vida na primeira pessoa-
do André para nós
Histórias de Vida e o que tenho aprendido com as minha viagens (são todas retiradas e momentos vividos durante as minhas viagens de bicicleta):
Grande Rota do Zêzere:
Era por volta das 22h e estava frio. Tínhamos vestido tudo o que tínhamos na bagageira da bicicleta. Estávamos no topo de uma serra, sem rede ou bateria (já não me recordo). O meu amigo de viagem já não tinha comida e ainda nos encontrávamos a 30km do destino, em pleno Inverno de Fevereiro. Já levávamos 100km nas pernas, sempre a trepar serras. No dia anterior tínhamos subido à Torre da Serra da Estrela, uma subida que levou 6h a ser percorrida. Uma dureza… O meu amigo estava a dar a quebra há já uns quilómetros. O facto de não pedalar há mais de um ano estava a fazer efeito. A estrada não tinha sinalização nem iluminação, não passava um carro, e só se ouvia o vento e as eólicas por onde passávamos. Ao longe avistávamos aldeias iluminadas. Lindo! Depois de termos subido essa serra a pé, voltamos a montar no topo da mesma. De repente, quando olho para trás, vejo o meu companheiro de viagem estatelado no chão, deitado, sem forças a dizer que não aguenta mais. Pela primeira vez numa viagem me senti interiormente assustado. Estávamos no meio do nada, tudo às escuras, sem bateria e ainda estávamos longe do destino. Tendo-me assumido como líder do grupo, tive que assumir essa função até ao fim do dia, por mais medo ou assustado que estivesse, acabei por tentar motivá-lo, com a comida e bebida de emergência que guardo sempre como plano b. O lado positivo do dia, é que o resto do caminho foi a descer, o que foi bastante motivador.
Rota Vicentina:
Estávamos na semana entre Natal e Ano Novo (a típica semana em que o grupo se junta para uma biketrip). Dia seguinte ao Natal, frio e a chover. O fim do dia foi passado trepar serra até à Arrifana. Mais uma vez, horário de inverno. Ao final tarde, reservei noite para os 3 elementos do grupo para a Pousada da Juventude da Arrifana. Quando chegamos à pousada, estava tudo às escuras, mesmo com ideia de estar encerrado ou até mesmo abandonado. A malta diz-me para olhar para a reserva, quando me deparo que tinha feito a reserva para a noite seguinte. Ups! Caiu-me tudo em cima. Tentámos várias alternativas, mas nada. Estávamos longe do destino mais próximo e estava tudo fechado por ser época natalícia. A moral do grupo estava a desmoralizar-se até que a gerente da pousada aparece a dizer que a pousada estava fechada e que só abriria no dia seguinte. Mostrámos a reserva que tínhamos e fizemos o choradinho a dizer que não tínhamos sítio onde ficar. Acabámos por ficar a pernoitar na pousada, sozinhos, sem assistência e sem água quente. Foi um alívio, mas até o banho de água fria deu para recuperar o espírito do grupo. Mais um final feliz
Grande Rota Vale do Côa
Primeira vez que decido acampar numa biketrip e levar a “casa às costas”. Uma experiência incrível! Era Verão, e estávamos na maior semana de calor do ano de 2018. Eis que parto à aventura com mais um amigo (todas as viagens consigo levar alguém diferente e “acabar” fisicamente com essa pessoa). A primeira noite dormimos ao relento, com o calor que estava só se ouvi a natureza e o rio. A segunda noite foi passada num quartel de bombeiros, que simpaticamente nos deram uma sala de aula para estender o saco de cama, bem como uma belo duche para tirar o pó de cima. A terceira noite foi passada numa casa de banho de um parque de campismo meio abandonado com osgas, melgas, formigas e aranhas (de calcular que não peguei olho a noite toda, foi assustador!). No quarto dia conseguimos ficar novamente num outro quartel de bombeiros. A última e melhor noite, foi passada na torre de um castelo de uma aldeia com apenas um morador (um cenário que só se veem nos filmes), em que tivemos de fazer um pouco de escalada, mas que valeu imenso a pena e é daquelas coisas que não se fazem todos os dias.
Nesse mesma rota, o calor era insuportável, tivemos 3 furos e já não tínhamos mais câmaras de ar. Um caminho intransitável a pé, de bike, de mota... um calor abrasador que estava a desgastar-nos. O meu amigo tinha feito uma má gestão da água e já não tinha mais. A minha água já estava quente, parecia chá, mas nunca dava parte fraca. Era o líder (até gosto de ser o líder do grupo) haha O troço era paralelo ao Rio Côa. Do nada, uma clareira, com uma cascata, mesmo a pedir para tomar banho! Assim foi: toca a despir, a beber água diretamente do rio, refrescar, secar a roupa, comer e tomar banho nus. Algo tão simples como um banho, mas tão energético e motivador.
Caminhada Guincho-Cabo da Roca:
Mais um verão e um dia espetacular. Sem perceber bem porquê, partimos à aventura sem água e comida, fomos à campeões diria eu. A ideia era deixar o carro na partida, fazer a caminhada de 5horas até ao final e aí, logo tentaríamos apanhar boleia. Com um banho a nu, tomado numa das praias desertas por onde passámos, eis que chegamos ao destino. Toca a apanhar boleia. Primeira tentativa: um casal português, primeira nega. Segunda tentativa: autocarro de turistas, segunda nega. Terceira tentativa: um estrangeiro que nos abriu a porta do carro sem problemas e que até tirou uma selfie connosco. Conselho: em Portugal pede boleia a estrangeiros!
Biketrip Serra de São Mamede com entrada em Espanha:
Esta foi a viagem mais recente que fiz. A ideia inicial era acampar, em pleno inverno (só podia correr bem), interior e no meio de serras. Os dois elementos do grupo queriam experimentar fazê-lo. Siga viagem! 115km para primeira etapa, coisa pouca. Embora tenha ido com amigos que pedalam tanto ou mais que eu, o que é certo é que ao final do dia eles já estavam todos estoirados. Chegámos a Castelo de Vide. Fizemos o resumo do dia nas redes sociais e ligámos para a família a dar as coordenadas. Metemos conversa com locais para nos indicar um bom restaurante e barato para jantar e repor as energias. Um belo entrecosto, num restaurante com malta muito porreira. Em jeito de curiosidade perguntaram-nos onde iríamos acampar. “Ali em cima, a 700m de altitude, a acampar” - disse eu. A cozinheira ao ouvir isto ficou com pena de nós. Conclusão: terminámos em casa dos donos do restaurante, os 3, ao quente e num local acolhedor. Mais uma agradável experiência que nunca esquecerei. Impressionante o facto de pessoas como tu, mostrarem pena de ti, e acolherem em casa 3 desconhecidos. O mais admirável é que na noite seguinte aconteceu exatamente o mesmo, em Campo Maior. Com isto tudo, acabámos por nem sequer abrir a tenda!
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Boas Aventuras,
Solo Adventurers Joana & André
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