Olá, Sonhador(a)!
Quando pensei no nome desta Crónica procurei saber qual o significado de um “caçador de sonhos”, também chamado de “espanta-espíritos”.
Descobri que este objeto, que utilizamos como decoração, tem uma tradição muito antiga e existem várias lendas acerca da sua história.
Aquela que encontrei de forma mais recorrente na minha pesquisa indica que este objeto foi criado como amuleto pela tribo indígena norte-americana Ojibwa que via as aranhas como um símbolo de proteção e de sorte.
Asabiskeshiinh, o nome original do caçador de sonhos, significa teia de aranha e foi criado por uma protetora espiritual daquela tribo, que tinha a forma de uma "mulher-aranha" e que olhava especialmente pelas crianças.
À medida que a tribo foi crescendo e os seus membros começaram a migrar para outros territórios, a protetora sentiu necessidade de criar um amuleto que os acompanhasse para onde quer que fossem, não só como forma de proteção, mas também como amuleto portador de sorte.
Hoje em dia diz-se que o caçador de sonhos deve ser pendurado junto à cabeceira da cama, para poder capturar os sonhos maus e deixar entrar na nossa mente apenas os sonhos bons, protegendo-nos enquanto dormimos.
Lendas à parte, os próprios sonhos têm de facto uma função protetora: da nossa saúde mental.
O estudo dos sonhos
Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, foi pioneiro na arte de compreender de forma sistematizada os sonhos, procurando perceber qual a mensagem que o inconsciente procura enviar à consciência através do sonho.
Segundo Freud, os sonhos são manifestações dos desejos e ansiedades mais profundos, muitas vezes relacionados com memórias ou obsessões reprimidas da infância.
Já as teorias mais recentes acerca dos sonhos rejeitam as interpretações psicológicas e fundamentam-se na biologia, validando o ato de sonhar como uma atividade fisiológica essencial à nossa saúde mental.
Sonhar acordado torna o cérebro mais eficiente
Um estudo de 2015 realizado por investigadores da Universidade de Bar-Ilan, em Israel, demonstrou que o ato de sonhar acordado não só oferece um escape mental durante a realização de tarefas aborrecidas, como também tem um efeito positivo e simultâneo no desempenho do cérebro, tornando-o mais eficiente.
Segundo o neurocientista Moshe Bar, da Faculdade de Medicina de Harvard, sonhar acordado permite criar um conjunto de experiências prévias que podemos usar para decidir como agir caso tais imaginações se tornem realidade.
No fundo, estamos a construir cenários que nos vão ajudar perante uma tomada de decisão.
Mas não é só quando sonhamos acordados que beneficiamos deste mecanismo inconsciente.
Sonhar durante o sono permite reduzir a ansiedade
Mesmo quando o nosso cérebro parece desligar e estar em completo repouso, existe uma rede de conexões cerebrais que é ativada precisamente quando não estamos concentrados em nada.
Os sonhos mais vívidos acontecem precisamente durante a última fase do ciclo do sono, a fase REM (Rapid Eye Movement).
Esta fase caracteriza-se por movimentos oculares rápidos, movimentos musculares involuntários, atividade cerebral intensa, respiração e batimentos cardíacos mais acelerados.
No entanto, sendo este o estágio mais profundo do sono, o corpo consegue realmente relaxar, e durante cerca de 20 minutos, apesar de o batimento cardíaco acelerar, ocorrem as chamadas “paralisias do sono”, pois o cérebro bloqueia os neurónios motores para que o corpo não reproduza os movimentos ocorridos nos sonhos.
Esta fase do sono é também muito importante para fixar as memórias, processar as experiências e os conhecimentos adquiridos durante o dia.
Os sonhos criam assim um espaço seguro onde se torna possível organizar e integrar conteúdos emocionais que podem causar mal-estar e ansiedade, simulando as experiências da vida real, mas sem estar em contacto com essa realidade.
Desta forma, promovem o equilíbrio psicológico e atuam como promotores de uma boa saúde mental.
O sonho não é apenas algo abstrato que nos motiva e nos move para alcançarmos novas realizações.
O sonho tem uma função bem mais importante na nossa saúde, permitindo-nos afastar do tédio, imaginar cenários e autorregular a ansiedade inconsciente, protegendo-nos dos potenciais perigos que nos rodeiam, e ajudando-nos a avançar no dia a dia.
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