Esta coleção de leituras mais começa a parecer uma ode ao Japão. Vamos no segundo livro seguido de um autor japonês (Haruki Murakami foi o último) e no terceiro, se contarmos com Kazuo Ishiguro que nasceu no país também. Mas mesmo tendo este elemento em comum, têm todos o seu espaço de criação e muito diferem entre si. Este distanciamento entre aquilo que escrevem e como escolhem escrever é o que me fascina.
Murakami é realismo mágico, é música, é um pai que lê um conto a um filho na hora de adormecer. Kawaguchi é o dia-a-dia, é a bica que bebemos no café de manhã, são os pormenores de uma conversa, é teatro. Mas têm os dois o seu encanto. Concentremo-nos, desta vez, no segundo.
“Before the coffee gets cold” (já existe também em Português, “Antes que o Café Arrefeça”, editado pela Editorial Presença) começou por ser uma peça de teatro, o que explica o discurso rápido e feito essencialmente de descrições e de diálogo. Tinha tudo para não me fazer gostar dele e, no entanto, aconteceu o contrário. Foi precisamente essa rapidez que me fez ler o livro num ápice.
Mas vamos à narrativa. Este livro tem sempre o mesmo palco, um café com mais de cem anos, sem janelas, em que a temperatura está sempre mais fria do que no exterior, onde, segundo um rumor, é possível voltar atrás no tempo, e conta a história de 4 personagens que o desejavam fazer. Uns mais céticos que outros, uns com mais a perder que outros, uns mais curiosos, todos eles acederam às regras que, outrora, fizeram muitos desistir. A quantidade de regras envolvidas neste regresso ao passado (que não vos vou contar, são parte importante de todo o processo) levaram a que durante muito tempo o rumor não passasse disso mesmo e que ninguém se aventurasse nesta viagem que bem podia ser a viagem das suas vidas.
Não é o melhor livro que já li, mas também não é o pior. Percebo como se transformou num fenómeno no Japão e agora um pouco por todo o mundo. É de leitura rápida e, se pensarmos no leitor estereotipado, a capa é o primeiro chamariz, ao ter um gato. E a ação acontece num café, imaginário preferido de muitos. Para mim que tenho alergia a gatos, foram o cheiro a café, as descrições do fazer, servir e cheirar a café, e as motivações das quatro personagens para regressarem ao passado. No final do dia é sempre o amor que nos move e também aqui não há exceções. Mesmo que o presente nunca mude.
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