O ciúme é uma experiência emocional carregada de contradições. Por isso, importa refletir sobre o assunto e conhecer melhor esta sensação que, nalguma fase da vida, todos já vivenciamos - ou poderemos ainda vir a sentir.
O primeiro ‘paradoxo’ - vamos chamar-lhe assim - começa quando dizemos que “ter ciúmes” é sinal de amor. Está errado. É precisamente o oposto. Por detrás da pessoa ciumenta, está uma personalidade fragilizada, insegura e, em muitos casos, manipuladora, ou possessiva; uma personalidade que quase nunca cria margem para que a confiança se construa. Deixemos, pois, de alimentar aquele ditado. O ciúme não é nenhum ‘tempero’ para um relacionamento. É um problema - que, de resto, terá sempre solução.
De igual modo, o ciúme é uma contradição por levar a crer que, ainda no contexto de uma relação amorosa, há uma ameaça externa, quando, na verdade, esse ‘perigo’ é interno. Permitam-me elaborar. Quem experiencia o ciúme consegue chegar a convencer-se de que há alguém a mais do lado de fora do relacionamento. Mas, neste suposto ‘triângulo’, o terceiro elemento é, muitas vezes, nada mais nada menos do que o medo exacerbado do/a ciumento/a. As suposições irrealistas invadem as mentes de quem, sem necessidade, quer ‘proteger’ - dominar, leia-se nas entrelinhas -, a todo o custo, o/a companheiro/a.
O romancista Miguel de Cervantes dizia que “os ciumentos olham sempre para tudo com óculos de aumento, que engrandecem as coisas pequenas (...) e fazem com que as suspeitas pareçam verdades”. E, de novo, neste choque entre realidade e imaginação, encontra-se um problema afetivo a que é preciso dar resposta.
A terceira contradição inerente ao ciúme é, a meu ver, a mais irónica e reflete o quão fascinante (assustadora?) a mente humana pode ser. É frequente haver pessoas invadidas pelo ciúme por ‘projetarem’ nos parceiros o próprio desejo de trair. Sim, por pensar em envolver-se com terceiros, a pessoa ciumenta teme que o companheiro, ou a companheira, caia na mesma vontade. É a possessividade ao mais alto nível.
Em contrapartida, podemo-nos alegrar por saber que o ciúme encerra em si mesmo uma vantagem. É sinal de que a nossa autoestima precisa de um estímulo. É para isso que devemos trabalhar, porque, enquanto houver amor próprio, podem ter a certeza de que não há espaço para contradições.
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