Muitos de nós nunca sequer colocámos a hipótese de experienciar uma situação pandémica, ou pelo menos, não num grau tão próximo e alarmante. O que é certo é que, além de não contarmos com essa experiência, tão pouco prevíamos os seus efeitos, a curto e longo prazo.
O tempo que confinámos levou a que, forçosamente, todos nós nos fechássemos na nossa concha. Tendo acatado esta novidade com maior ou menor ânimo, todos conhecíamos o bem maior que nos incutia o dever de isolamento.. mas também ficámos a saber tudo aquilo que implica não sair de casa. Além do eventual aborrecimento, monotonia, falta de contacto e interação pessoal - o confinamento trouxe consigo outros efeitos, que acabam por estar associados a todos estes, ainda que não lhe sejam tão facilmente relacionáveis.
O constante isolamento fez com que passássemos todos os dias na nossa zona de conforto, apesar de talvez nem nos termos apercebido ou valorizado isso. Ao desconfinar, com toda a rotina a voltar, tropegamente, ao normal; fomos lentamente saindo do ninho... mas para alguns, foi como se precisassem novamente de aprender a voar. Isso pode refletir-se no receio em permanecer em locais com mais gente; ter dificuldade em socializar, manter conversas, reatar amizades antigas ou até mesmo fazer novos amigos; não conseguir manter uma rotina, sentir falta de motivação, pouca concentração e organização – qualquer um de nós pode estar a ser alvo destas situações, sem conseguir perceber o porquê.
Caso estejamos a ser alvo de algum destes problemas, é de extrema importância relembrar que, certamente, não somos um caso isolado. Na verdade, nunca o somos, por muito desafiante que possa ser mentalizarmo-nos disso - haverá sempre alguém que está a passar pelo mesmo. E é no cerne desta questão que surge o papel do diálogo e comunicação - seja com um profissional de saúde, com um amigo, um familiar ou até mesmo um total desconhecido - conversar sobre o que nos sobrecarrega diariamente é um excelente começo para retirar esse peso dos nossos ombros.
Vale relembrar que existe atualmente no nosso país, uma linha telefónica gerida pelo Serviço Nacional de Saúde, disponível gratuitamente e 24 horas por dia, onde o aconselhamento psicológico está à distância de uma chamada e acessível a qualquer cidadão.
Uma simples conversa pode significar o fim do acúmulo interior de um variado leque de assuntos, uma vez que estamos a exteriorizar o que sentimos. Isso pode também ajudar-nos a saber lidar melhor com o problema em questão, ou receber ajuda da forma como devemos fazê-lo. Falar pode parecer árduo e não ser o mais apetecível, mas é sem dúvida merecedor de uma tentativa! Além disso, ouvir o que têm para nos dizer será enriquecedor e pode ser uma grande ajuda na resolução da situação.
Outro importante gesto a ter cm conta, tem que ver com a forma como lidamos com os problemas. Visualizar a sua resolução como um processo que se decompõe em pequenos passos facilita a sua desmistificação e mantêm-nos motivados para alcançá-la. Isto passa por levar um dia de cada vez, mantendo uma postura positiva e a certeza de que caminhamos num sentido favorável.
Note-se, porém, que isto não significa dizer que todos os dias serão bons. Em qualquer caminhada estamos sujeitos a tropeçar, mas é essencial continuar a avançar. Não esquecer aquilo que nos move e gerir a frustração são dois dos mais importantes trunfos que podemos guardar.
Voltar a viver com mais normalidade e liberdade, envolve não deixar a saúde mental em casa. Importa considerá-la e não esquecer que, como diria Lena d'Água:
" o mundo só se resolve, quando nos resolvermos"
Encontramo-nos no próximo nível?
Beatriz Bernardo
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