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Foto do escritorJoana Feliciano

Lara Moita entre os novelos e postais que alimentam a amizade

Atualizado: 1 de jan. de 2022

Somos mais de 7,674 bilhões de humanos a percorrer diariamente o mundo e há sempre alguém que nessa imensidão de gente nos alimenta a fé na humanidade e no que realmente importa. A Lara Moita com a sua naturalidade e os seus projetos traz-nos mais alguns dos pedaços que faltavam para alimentarmos a bondade e a amizade que deviam tricotar as nossas relações. Vem connosco neste novelos de amizade que só nos trazem postais amigos de memórias calorosas.



Sinopse de como nos conhecemos

Na verdade não nos conhecemos, mas há sempre uma ligação. Há sempre quem faça a conexão que falta. Muito obrigada à Maria João Gourlay, a nossa recrutado de histórias que merecem ser contadas.


Sobre a Lara


A Lara Moita no tabuleiro da vida já passou pela casa de partida e está na travessia dos quarenta. Diz ser uma privilegiada porque tem de tudo o que precisa para aplicar a fórmula da felicidade. É do tipo de pessoa que gosta de viajar, abraçar a natureza, ver coisas antigas (sejam das vintage ou das menos finas) e há quem diga que ela gosta mais de animais do que de gente. Será verdade? Vamos comprovar.


Na Irlanda, onde o meu espírito pertence


"Não sei se lhe chame sorte, mas tenho o que a maioria sonha: uma família fantástica, um companheiro com C grande, casa e emprego, um dinheirinho extra para passear, e saúde quando baste. E o mais importante, noção que tudo isto é mais do que suficiente para ser muito grata pela vida que tenho. Mas há uns anos atrás percebi que tudo isto não basta para se ser feliz. Todos precisamos de um propósito, e com quase 40 anos eu percebi que me não tinha um definido.

Na natureza, onde tudo é equilíbrio

Na procura desse propósito li muito, fiz muita pesquisa e cheguei à conclusão que necessitava de me integrar mais na sociedade, de me sentir parte da comunidade. De dar um pouco de mim. Mas na busca por trabalho voluntário (a única forma que via para atingir o meu objetivo) falhei em encontrar algo que se coadunasse como a minha vida e com o que tinha para oferecer. A trabalhar a tempo inteiro não era fácil encontrar algo que se enquadrasse no meu horário livre. Por outro lado os fins de semana eram o pouco tempo que tinha para passar com a família, e não sabia se queria prescindir disso. Todos estes assuntos foram discutidos exaustivamente no parque do Palácio, no Porto, nas horas do almoço, com uma amiga do trabalho, Madalena Oliveira, a quem agradeço o tanto que me aturou.


Por entre o verde e os pavões, falamos de projetos existentes, de áreas que precisavam de intervenção, e a conversa foi muitas vezes para os mais idosos.



O meu Avô, já falecido, passou os últimos tempos da vida dele num Lar, porque precisava de cuidados que não lhe conseguíamos dar em casa. O meu Avô tinha visitas diárias da esposa, das filhas e de alguns dos netos. Foi nessas visitas que me apercebi do olhar de solidão de muitos companheiros de casa do meu Avô. Todos sabemos destas realidades, mas é muito diferente quando as presenciamos. Quando entrávamos sorriam, e trocávamos umas palavras ao passar, mas ficava-lhes sempre no rosto uma tristeza, como se a vida lhes fugisse, porque não tinham com quem conversar. Posso dizer que essas pessoas me marcaram. Na busca para me conectar com o mundo exterior, tinha começado a participar numa atividade que se chama postcrossing, e que consiste em trocar correspondência com pessoas de todo o mundo. Mas cedo descobri que a maioria das pessoas participavam para fazer coleção de postais, e não para se conectarem com outras pessoas.


E daí surgiu a ideia: e se, em vez de enviar postais para alguém que coleciona postais, enviássemos postais para alguém que precisa de receber um carinho, de alguém que precisa de saber que não está só no mundo?

E se criássemos uma plataforma que permitisse outras pessoas fazerem o mesmo? Pesquisei e não encontrei nada semelhante. Demos-lhe nome: Projeto Postal Amigo.

A enviar cartas do Projeto Postal Amigo

Inicialmente resolvemos enviar uma carta para cada uma das instituições das nossas terras natais, para vermos se haveria interesse no Projeto. Nada... enviamos 20 cartas e não tivemos uma única resposta. Mas algo em mim me disse que não podia desistir. A ideia era boa, alguém ia ver que era de apostar. Criei a página de Facebook e lancei-me nos grupos de Assistentes Sociais, IPSSs, Animadores Sociais. E de repente tinha meia dúzia de instituições inscritas, e depois uma dúzia e continuamos a crescer. Desde a criação até hoje, o Projeto evoluiu, inscreveram-se 92 instituições, algumas desistiram por variadas razões, e estamos sempre de portas abertas para receber mais. Divulgamos 3 moradas por semana, para onde todos podem escrever, e temos também outras atividades temáticas, e até específicas para turmas e professores. Pelo caminho, lembrei-me que podíamos fazer gorros e mantas para oferecer aos 'nossos' lares, e quase sem me aperceber, nasceu o Novelos de Amizade, que não só faz coisas lindas para as instituições do Projeto Postal Amigo, mas para muitas outras instituições e associações no nosso País. Se é de tricot, crochet ou Amigurumi, nós fazemos e enviamos. O Novelos de Amizade nunca seria possível sem a minha Mãe, que não só trabalha imenso nas peças que precisamos, mas também trata de toda a parte logística. Obrigada Mãe.


O Novelos de Amizade tornou-se numa benção a duplicar, porque não só ajudamos quem precisa das mantas, xailes, casaquinhos , etc, como damos ocupação e propósito às voluntárias que fazem as peças.

Mas não quero parar aqui. Sonho chegar para além dos Lares e Centros de Dia. Quero conseguir ajudar a levar carinho em forma de carta aos hospitais e às aldeias isoladas. Quero chegar a quem vive sozinho e que precisa de uma palavra amiga. E principalmente quero mostrar que somos tão mais felizes quando damos de nós e fazemos sorrir o próximo. E que o podemos fazer com uma simples carta ou postal, ou manta de tricot.


Todos podemos fazer um bocadinho, só temos de dar asas à nossa imaginação."


Mais sobre a Lara?


Acompanha o seu Projeto Postal Amigo aqui e os Novelos de Amizade aqui.

Em que consiste o Projeto Postal Amigo?

O objetivo maior é ligar pessoas através da correspondência postal.

E temos atividades para todos os gostos:

-Trabalha num ERPI ou centro de Dia? Inscreva a sua instituição para receber e enviar correspondência;

-Trabalha como Apoio Domiciliário? Inscreva os seus utentes;

-É professor? Inscreva a sua turma para se corresponder com as nossas instituições inscritas ou com outros alunos de semelhante nível de escolaridade;

-É particular e adoraria alegrar a vida dos utentes inscritos? Não hesite em escrever para as moradas que divulgamos às segundas, quartas e sextas;

-E por fim, se quiser ajudar a animar famílias que lidam com cancro pediátrico, escreva para os nossos amigos da Calioásis!

E qualquer questão, estamos sempre aqui para vos esclarecer!

Venham fazer do mundo um espaço mais bonito, levando sorrisos com as vossas cartas!




Novelos de Amizade: Somos um grupo de gente boa, com corações de ouro e mãos de fada, que se juntou para auxiliar iniciativas solidárias, com trabalhos de tricot e crochet.


Queres saber como nos podes ajudar?

1. Seguindo a nossa página.

2. Fazendo artigos para as iniciativas que apoiamos;

3. Oferecendo materiais a alguém que queira fazer os artigos e não possa suportar o custo dos materiais;

4. Transportando as nossas encomendas até à nossa ‘Sede’ ou até aos pontos de entrega de cada iniciativa.

5. Falando de nós aos teus amigos e familiares


Vem fazer parte deste Projeto e ajudar quem precisa! Porque ajudar os outros faz-nos mais felizes!


 


Lições de vida


-da Lara para nós-


1. A vida faz mais sentido quando fazemos parte de algo.

Todos temos uma família, um emprego, uma comunidade. Mas existe uma diferença entre trabalharmos para uma empresa ou fazermos parte de uma empresa. Entre termos uma família, e fazermos parte dela. Entre vivermos numa comunidade ou fazermos parte dela. Fazer parte de qualquer uma delas é contribuir para o seu bem estar e desenvolvimento, é trabalhar em prol de um bem maior do que o simples interesse do "eu". Aprendi isso com o Projeto Postal Amigo, e por isso raramente o descrevo como o meu Projeto. O Projeto é de todas as instituições e de todas as pessoas que colaboram com ele. O Projeto não é meu, eu faço parte do Projeto. Sou muito mais feliz desde que me vejo como parte do meu Projeto, da minha família e da empresa onde trabalho.

2. Viver apenas para o objetivo final é desperdiçarmos a vida.

Ter objetivos é fantástico, tanto a nível pessoal como profissional. Mas não podemos pensar que só seremos felizes quando atingirmos esses objetivos, temos de aprender a aproveitar a caminhada, até os tropeços pelo caminho. Quando comecei o Projeto Postal Amigo queria muito atingir um certo número de instituições inscritas, e acho que não disfrutei o facto das primeiras terem acreditado num Projeto de Facebook, de uma louca que ninguém conhecia. Desde aí aprendi que temos de aproveitar todos os dias, e a não viver para os fins de semana, para as férias, ou para os "likes" ou inscrições no Projeto. Todos os dias são dias para serem aproveitados.

3. Somos mais felizes a fazer felizes os outros.

Esta aprendi com a minha Mãe, que sempre fez e faz de tudo para nos ver felizes. Eu sou aquela pessoa que gosta mais de dar prendas do que receber, e por isso no Natal faço as compras para metade da família 😊. É como diz a música dos Capitão Fausto:

"O bom filho que eu já sei ser Só sou porque a minha mãe Insistiu até eu saber E se eu procuro amor, primeiro dar pra depois colher". Acredito que tudo o que damos recebemos em dobro. O sorriso no rosto de quem recebe é a maior prenda que posso ter. Um agradecimento sustenta-me por dias, e faz-me sempre querer dar mais ainda. Mas a maior lição foi aprender a dar sem esperar absolutamente nada em troca. E acreditar que o bem que pomos no Universo vai chegar a alguém. E isso por si só, é retorno suficiente.

4. Não esperar dos outros, o que esperaríamos de nós mesmos. E aceitar as pessoas pelo que elas são, e não pelo que achamos que deveriam ser.

Não sei quando aprendi esta, mas a certa altura percebi que é das maiores lições de vida, e das que mais influencia a minha vida. Esperarmos que os outros façam tudo como nós faríamos ou que pensem da mesma forma que nós pensamos é o caminho certo para a deceção. Isto não quer dizer claro que não haja mínimos aceitáveis. Preservarmo-nos também é importante. Mas se não elevarmos demasiado as expetativas, as pessoas quase sempre nos surpreendem pela positiva. E se as aceitarmos como são hoje, toda a evolução é positiva. Isto é válido para Pais, Filhos, Maridos e Esposas, Tios e Tias, Amigos, Patrões e Colegas de Trabalho, e todos os humanos na nossa vida. Os animais não contam, esses superam sempre a maior das expetativas. 😊

5. As coisas más não duram para sempre. As boas também não.

Tudo neste mundo está em constante mutação. As coisas más que nos acontecem não duram para sempre. A dor, o sofrimento não é eterno, e temos de acreditar nisso para suportar os dias maus. Mas as coisas boas também não são para sempre. Dizer o que sentimos àqueles que amamos diariamente, seja por palavras ou por ações é muito importante, e aproveitar o tempo que temos, porque ele é finito. Já dei por mim a regressar de almoços nos meus Pais, a enviar mensagens à minha Mãe, porque me esqueci de agradecer o bom almoço. Mas se morrer, não quero que fique nem um obrigada por dizer.

Sentiste empatia por esta história? A Lara está disponível para receber e responder a todas as questões, curiosidades e/ou sugestões.

Envia-nos um email para geral@soloadventures.pt e nós fazemos chegar-lhe a mensagem.




Boas Aventuras,

Joana Feliciano & Lara Moita










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