A exigência de se ser prestável permanentemente, a intenção de evitar eventuais conflitos, a falta de confiança, a culpa de não corresponder às expetativas de terceiros… estes são apenas alguns elementos que podem ser a máscara de um problema que nem sempre é facilmente reconhecido – o medo de dizer “não”.
Acontece que o caminho aparentemente mais fácil e direto, justamente o de aceitar de imediato qualquer que seja a proposta, poderá acabar por ser o mais espinhoso para nós.
Colocar constantemente os interesses de outra pessoa à frente dos nossos, não faz de nós melhores amigos/filhos/irmãos/namorados/funcionários. Pelo contrário, faz com que nos desvalorizemos, uma vez que facilmente estamos dispostos a desrespeitar a nossa própria vontade, colocando-a para segundo plano ou até mesmo eliminando-a, em prol de um proveito que não é sequer nosso. Apesar deste gesto poder ser bastante apreciado pela contraparte, há que ter em consideração o quanto nos afeta, ainda que não deixemos que isso transpareça para o mundo exterior.
Importa, no entanto, deixar claro que incentivar a devida ponderação antes de aceitar alguma proposta instintivamente, não se deve confundir com um ato egoísta de recusar todo e qualquer pedido. Trata-se, antes, de aceitar somente aquilo que está ao nosso alcance, de acordo com as nossas reais vontades e prioridades, sem atropelar elementos que nos são importantes.
Vale também relembrar que dizer “não”, não tem de significar a negação total à questão principal, mas sim adaptá-la de acordo com a nossa realidade.
“Infelizmente hoje não posso, marcamos para outro dia?”
“Só estou disponível noutro horário, vamos reagendar?”
"Podemos tentar de outra forma?"
No fundo, resume-se a que sejamos fiéis a nós mesmos, independentemente de circunstâncias exteriores. Ao sermos, acima de tudo, educados e honestos a dizer "não" - não há razões para que nos sintamos culpados. Antes de agradarmos aos outros, devemos saber agradar a nós próprios.
Encontramo-nos no próximo nível?
Beatriz Bernardo
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